Marisa
Fonseca Diniz
O total de desempregados em todo mundo cresce
assustadoramente, sendo que em alguns países em específico há uma maior
concentração do número de desempregados decorrente da economia deficitária.
Dados da OIT, Organização Internacional do Trabalho mostram que quase 45% da
população mundial, atualmente se encontram desempregadas. Desse total, apenas
48% do total de mulheres em idade laboral se encontram empregadas contra os 75%
do total de homens, ou seja, a desigualdade de gênero ainda é muito alta em
todo mundo. No Brasil, segundo dados oficiais o total de mulheres desempregadas no ano de 2022 é de 14,9%, enquanto de homens é 12%, uma desigualdade gritante.
Pesquisas comprovam
que as mulheres possuem maior grau de escolaridade em comparação aos homens,
porém a sociedade ainda é patriarcal. O patriarcado é um sistema social, onde
os homens predominam em funções de liderança política, autoridade moral,
privilégio social e controle de propriedades, além de ter o domínio familiar e
a autoridade sobre as mulheres e crianças.
O atraso deste tipo
de sistema social em relação à legislação trabalhista com o argumento de que as
mulheres são o sexo frágil, serve apenas para denegrir a imagem da mulher, de
maneira a pensar que elas possuem menor capacidade profissional para assumir cargos de liderança ou
fazer atividades mais braçais. Esta desqualificação gera um retardo no desenvolvimento
econômico do país que possui alta taxa de desemprego e políticas
patriarcais, onde o homem é o centro da sociedade, mesmo sabendo que a
sociedade ano a ano vem perdendo este conceito ultrapassado.
O número de famílias chefiadas por mulheres mais que
dobrou em muitos países, o que faz pensar que o pensamento patriarcal não se
adéqua a este novo papel da mulher na sociedade. No Brasil, por exemplo, 48,7% das famílias são chefiadas por mulheres. A família hoje tem
outro conceito muito diferente do que nos séculos passados, as mulheres são sempre
aquelas que assumem a responsabilidade dos filhos e da casa, e quando há uma separação
ou viuvez se tornam exclusivamente as responsáveis em prover o sustento da
família.
O que não faz o menor sentido, quando analisamos os dados
recentes sobre o desemprego, visto que, elas têm menos oportunidades de
trabalho, quando não, são subaproveitadas em suas funções laborais. O Conselho
Nacional de Justiça do Brasil com base no Censo Escolar de 2011 constatou que mais
de 5 milhões de estudantes não possuem o nome do pai na certidão de nascimento,
e que em 2018 mais de 100 mil processos judiciais tramitavam na justiça por
falta de pagamento de pensão alimentícia, ou seja, a sociedade é patriarcal
mais a responsabilidade financeira da família sempre sobrecai sobre as mulheres.
Segundo dados de 2022, o IBGE, Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística constatou que a expectativa de vida dos homens é de 73,6 anos e para as mulheres 80,5 anos, no entanto, o mercado de trabalho brasileiro
considera que as mulheres a partir dos 40 anos de idade já sejam consideradas
velhas demais para assumir qualquer função, incluindo cargos de liderança, e as poucas empresas que
oferecem oportunidades de emprego às mulheres preferem que elas assumam funções de menor importância dentro das organizações.
O descarte de profissionais maduras do mercado
de trabalho tem feito com que o número de desempregadas cresça demasiadamente,
não importando se elas possuem mais diplomas ou experiência laboral em
relação aos homens. Tanto é que, as oportunidades de emprego de média e alta
gestão são sempre direcionadas aos homens da raça branca, héteros, de classes sociais mais elevadas descartando de
imediato as mulheres, além dos indivíduos da raça negra, asiáticos entre outros.
O pré-conceito concebido por aqueles que se encontram
em posições mais elevadas dentro das organizações tem feito com que uma legião de
profissionais talentosas sejam descartadas antes mesmo de terem a oportunidade
de serem entrevistadas para a vaga no qual se candidatam, ou seja, a
descriminação vai muito mais além da raça ou gênero, incluindo dessa maneira o
preconceito da idade muitas vezes associada ao elitismo classista.
Em mais de um ano buscando uma recolocação no mercado de trabalho nacional e estrangeiro enviei mais de 20.000 currículos. No entanto, todas as vagas
abertas no Brasil, apenas quatro empresas deram a oportunidade de uma entrevista. Em uma delas fui até o final do processo seletivo, mas a maneira como fui descartada da contratação soou de maneira ríspida e extremamente preconceituosa, mesmo sendo uma vaga de emprego direcionada à diversidade especialmente para mulheres acima dos 40 anos de idade. Para os demais currículos enviados não houve a menor chance de uma entrevista, sendo descartada logo em seguida após o envio dos mesmos. Algumas empresas enviaram e-mails informando que não havia interesse em ter na seleção profissionais mulheres acima dos 50 anos de idade, e estavam em busca de homens jovens com vasta experiência e educação escolar de primeira linha. Receber e-mails grosseiros como estes, nos deixa consternada com a situação, por não oferecem uma oportunidade para
uma profissional madura e que está em constante aprendizado, ou seja, um absurdo pensar que em pleno século XXI, as pessoas e as
empresas ainda compartilham de um pensamento tão atrasado e preconceituoso.
Os efeitos nocivos do desemprego vão muito mais além do
que o preconceito ou a falta de dinheiro. O desemprego causa efeitos nocivos à
vida emocional, física e social das pessoas, e pode piorar quando não se tem perspectiva de uma
recolocação no mercado de trabalho a curto prazo. Para algumas pessoas esse
fato pode não significar absolutamente nada, principalmente quando o pensamento
é de que jamais vivenciarão este fato.
As receitas prontas de que a melhor saída para o
desemprego é recomeçar tudo do zero e abrir um negócio próprio chove na
internet e nas livrarias, porém não podemos achar que todas as pessoas irão se
adaptar a esta nova vida ou tem reservas financeiras suficientes para investir
em um negócio próprio até porque nem todas as pessoas estudadas se encontram
nas classes sociais A ou B. Quando se é o único provedor da família e não há
reservas financeiras suficientes ou não se tem tino para vendas, não é o
negócio próprio que vai tirar a pessoa da situação de miséria na qual ela se encontra.
O impacto emocional na vida de um profissional
desempregado é enorme e pode gerar diversos problemas físicos, que vão desde um
estresse crônico até complicações mais severas como pressão alta, diabetes,
enfarte, doenças crônicas de pele, baixa imunidade e câncer.
Estudos feitos pelo jornal britânico BMC sobre desemprego
durante um longo período de tempo concluiu que este fato pode causar
transtornos mentais e multiplicar as doenças somáticas. O desemprego gera flagelo
emocional, estresse, insegurança, desamparo e autocondenação por acreditar ser
incompetente por não conseguir se recolocar no mercado de trabalho, ou seja, colabora de maneira
direta para diminuir a autoestima da pessoa.
A situação pode piorar quando pessoas próximas ou familiares
daquele desempregado o acusam de não estar sendo forte suficiente para
contornar a situação e buscar um emprego de maneira persistente, insinuando que
a pessoa não não quer trabalhar. Conselhos nada positivos
e críticas persistentes fazem com que as pessoas em situação de desemprego se
considerem incompetentes e ineficientes em sua busca por uma recolocação, mesmo
elas tendo um currículo impecável ou invejável com diversos cursos que são referência na área de atuação, por exemplo.
A perda de emprego é um dos fatores que tem colaborado
para o aumento da taxa de suicido em todo mundo, além do que, nem todas as
pessoas conseguem lhe dar com as pressões do cotidiano e nem com situações
adversas, o que pode acometer pessoas das mais variadas faixas etárias. A perda
do emprego tem sido considerada um dos traumas mais devastadores dos tempos
atuais, pois nem todas as pessoas conseguem enxergar que esta situação possa
ser apenas momentânea e a qualquer momento ser mudada.
A busca frenética por uma recolocação no mercado de
trabalho tem feito com que as pessoas andem diversos quilômetros por dia para
enfrentar filas gigantescas que se formam desde madrugada na frente das
empresas, apenas para concorrer a pouquíssimas vagas disponíveis. No
entanto, quando se está acima dos cinquenta anos de idade, os recrutadores nem leem o currículo e ainda por cima olham com desdém para aquele
que busca uma recolocação mesmo em vagas inferiores a sua competência. A falta
de trato daqueles que estão à frente da responsabilidade de contratarem profissionais
para as vagas em aberto vão muito mais além do preconceito, desprezar alguém pelo
gênero, raça, idade ou classe social é uma atitude cruel do ser humano.
Tão cruel que pode debilitar emocionalmente uma pessoa
que esteja se sentindo a pior das espécies naquele momento, tanto é que, a
depressão pode surgir como consequência da falta de emprego, a se pensar que
nem todas as pessoas são resilientes para superar esta fase abrupta de
mudanças.
Apesar de muitas empresas e profissionais acreditarem que
todas as pessoas acima dos quarenta anos de idade sejam um estorvo para as
organizações e que muitos estejam próximos de se aposentar, na verdade desconhecem
a realidade do Brasil. A maioria das pessoas que se aposentam cedo pertence à classe social A ou são funcionários públicos de alto escalão e políticos, que concentram quase 30% do total de gastos da Previdência, ou seja, as pessoas
que trabalham na iniciativa privada tendem a se aposentar mais tarde, com idade
superior aos 65 anos e com ganho médio de 01 salário mínimo.
Em compensação, as empresas que mais faturam no país possuem
renda líquida superior a 810 bilhões de dólares, quantia suficiente para
investir em novos postos de trabalho, mas que preferem explorar a mão de obra
barata em detrimento aos benefícios recebidos do governo federal em não
taxar grandes fortunas e ganhos. O mesmo país que favorece os mais ricos é o
mesmo que sobretaxa os mais pobres, tira os direitos dos trabalhadores e
favorece a classe social privilegiada do país.
Não é à toa, que as melhores vagas de emprego são
oferecidas aqueles oriundos das classes sociais A e B, que tem o privilégio de estudarem em escolas e universidades renomadas no país e no estrangeiro excluindo
de vez do mercado de trabalho aqueles que não de família tradicional e endinheirada.
Vale ressaltar, que quando há crise econômica, as primeiras pessoas a serem descartadas de seus empregos são aquelas que dependem
exclusivamente de salário para sobreviverem.
Quanto mais baixa for à classe social do profissional desempregado maior é o tempo para se recolocar novamente no mercado de trabalho, pior se for mulher, negro, pardo e idade superior aos 50 anos.
A vida vai ficando cada vez mais difícil para aqueles que
precisam se recolocar no mercado de trabalho, e continuar mantendo a família
viva. Infelizmente, as expectativas de uma recolocação vão diminuindo dia após
dia causando diversos problemas físicos e emocionais, além de contribuírem para
o aumento da desigualdade social. Uma dura realidade para quem se encontra em situação de desalento, pois por mais que se seja otimista nem sempre as pessoas conseguem enxergar uma luz brilhante no final do túnel!
Artigo editado com dados de Dezembro/2022.
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Artigo protegido pela Lei 9.610 de 19 de fevereiro de
1998. É PROIBIDO copiar, imprimir ou
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O trabalho Os efeitos nocivos do desemprego de Marisa Fonseca Diniz está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://marisadiniznetworking.blogspot.com/2019/11/os-efeitos-nocivos-do-desemprego.html.
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