Marisa
Fonseca Diniz
Há pouco mais de um ano venho tentando me recolocar no
mercado de trabalho brasileiro, no entanto, muitas vezes paro e penso, se o
problema no país se restringe apenas a situação econômica e política, pois a
cada busca me deparo com um show de horrores que acontece nas plataformas de emprego
e nas redes profissionais, que põe em cheque a capacidade de quem publica as
oportunidades de emprego.
Empresas e profissionais de recursos humanos publicam
vagas de emprego sem saber ao certo o que procuram, outros usam as plataformas
apenas para saber como está o currículo dos profissionais desempregados e há
aqueles que vão mais longe, publicam vagas com nomes bonitos em português e
inglês e com experiências que não condizem com a formação que solicitam.
O que me faz pensar o quanto o mercado de profissionais
empregados está caótico em comparação as publicações, não apenas de vagas de
emprego, como também dos assuntos que escrevem nestas mesmas plataformas. Tudo
parece lindo e maravilhoso se compararmos com as histórias da carochinha
contadas na fase infantil a cada um de nós, que busca uma na fase adulta uma nova recolocação.
Nas redes profissionais, por exemplo, os indivíduos
desempregados precisam estar com a autoestima bem equilibrada para não caírem
nas propostas indecorosas que empresários conhecidos como influencers dão em
referência a falta de emprego. É uma receita melhor do que a outra, onde a
vítima se torna ré em poucas palavras:
Entre outras barbaridades que encontramos por aí, e que
pasme, é aplaudida por diversas pessoas, não sei se inocentes ou manipuladas.
É realmente preocupante, quando nos deparamos com
sugestões camufladas de escravidão profissional por empreendedores que fazem
disso um mercado rentável da enganação, em pleno século XXI, quando deveriam
estar se adaptando as novas tecnologias e processos da Revolução Industrial
5.0. O que faz pensar que o desespero é tanto, que qualquer promessa vazia de
conquistar novos seguidores e manipular o pensamento alheio os fará encher os
bolsos de dinheiro de maneira fácil, o que pode não acontecer nos próximos anos
com a transformação galopante do mercado.
O fato é que, em épocas de recessão econômica o que mais
se encontra dentro das empresas, em sua maioria, é profissional despreparado,
medíocre e abusivo. Lembro-me de um caso recente em que um amigo estava em
busca de uma oportunidade de emprego, depois de meses conseguiu se recolocar em
uma grande empresa de infraestrutura, em um primeiro momento pensou que poderia
ampliar seus conhecimentos compartilhando sua experiência com os demais, além
de poder ser promovido. No entanto, com o passar do tempo foi percebendo que a
empresa tão amada por aqueles que não trabalhavam lá, não era o que parecia ser.
A diretoria tinha um pensamento bem retrógrado em
questões de promoções de funcionários, ainda mantinham o pensamento familiar de
anos atrás, em que só é promovido o amigo do amigo do dono, mesmo que o
indivíduo não tenha capacidade para gerir absolutamente nada. E com isso uma
sequência de erros era promovida dentro da empresa, gerentes e coordenadores em
sua maioria era indicado aos cargos, não por mérito, e sim por bajulação, algo
tão recorrente nas empresas nos dias atuais.
O ambiente de trabalho era sufocante principalmente porque quem estava nos cargos superiores pouco se importavam com os problemas dos departamentos, estavam mais interessados em viajar sem propósito, iam às reuniões de negócios sem saber ao menos o que iria ser conversado, além da maioria da chefia ser tóxica, esfolavam os funcionários e os desrespeitavam sem ter a mínima noção do que era gestão.
Não é à toa que muitos profissionais se demitem das
empresas mais por causa da chefia tóxica, do que pelo trabalho executado ou
pela empresa propriamente dita. Quanto mais tóxico for um chefe, maior será o
salário, e consequentemente menos eficiente ele será, isso é um fato. Claro,
que este meu amigo preferiu ficar desempregado a ficar doente dentro daquele ambiente
carregado de sugadores de energia.
A empresa que tem como política interna a indicação de
profissionais, em geral, incompetentes, tem processos burocráticos que empacam
o crescimento profissional dos funcionários, pois é avessa a inovação, a chefia
é resistente e consequentemente tem medo de perder o cargo e o alto salário
para alguém mais jovem, que possui novos pensamentos, ideias e tem fome de
crescimento profissional.
Muitas dessas empresas são as mesmas que pregam em sua
cultura organizacional a inovação como porta aberta para novos funcionários, de
preferência jovens, no entanto, são as mesmas que empacam o crescimento deles,
apenas com o interesse único de se aproveitar, mesmo que momentaneamente, da
mão de obra barata e disponível, o que denota uma política interna semelhante
aos mecanismos de trabalho de funcionários públicos, onde centenas de funcionários
sem ambição ficam no mesmo cargo por anos e são premiados por suas chefias por
este feito, ou seja, trabalhar em uma empresa dessas é viver constantemente no
passado, mesmo quando ela é afamada no mercado de negócios.
Agora imagine se uma empresa, que tenha uma mentalidade
como essa decida buscar um profissional no mercado de trabalho sem saber
exatamente quais experiências solicitar, e muito menos qual a função que o
candidato poderá executar?
É nesse ponto que volto ao assunto inicial deste artigo,
quando falamos em busca de uma nova oportunidade na careira, sempre fica aquela
dúvida se conseguiremos encontrar algo que nos valorize como profissional, ao
mesmo tempo, que teremos a chance de crescer dentro da empresa, ser promovido,
e não termos impedimentos quanto à idade, cor da pele, opção sexual ou classe
social, por exemplo, algo tão recorrente nas avaliações curriculares nos dias
atuais.
Garimpar uma boa oportunidade é como tentar encontrar uma agulha no palheiro, principalmente quando há consciência de que tempo é dinheiro, e o que menos podemos fazer é perder tempo. Muitas vagas publicadas em plataformas de emprego não tem o nome da empresa, o salário, em geral a função solicitada no título não é a mesma da descrição, pede-se uma série de formações e experiências, mas o salário a ser pago não condiz com a responsabilidade, além de outros absurdos como classificar cursos de humanas como sendo da área de exatas, um verdadeiro show de desconhecimento total da área, função, responsabilidade, entre outros absurdos.
Estes são apenas alguns exemplos que
encontramos no mercado de trabalho, indiferente da área de atuação, tempo é dinheiro, e o que menos perder nesta época de desemprego é tempo. A última coisa que nos resta, além de suportar a falta de
dinheiro e as cobranças familiares é rir das vagas esdrúxulas públicas mundo a fora, por favor nos
poupem!
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Baseado no trabalho disponível em https://marisadiniznetworking.blogspot.com/2020/03/show-de-horrores.html.
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