Marisa
Fonseca Diniz
A vida nem sempre pode ser baseada em momentos fugazes,
principalmente durante uma pandemia, seja ela por um vírus mortal ou por uma
situação que foge a normalidade diária. Muitas pessoas necessitam de contato
direto com outras pessoas para se sentirem confortadas em sua vida, seja um
familiar, um amigo ou um companheiro de trabalho, não importa, a necessidade de
ser agraciada por um abraço, uma conversa despretensiosa faz toda a diferença
na vida de muitos indivíduos.
De alguns anos para cá, a quantidade de pessoas que moram
sozinhas mais que dobrou em todo mundo, só nos Estados Unidos, por exemplo, 34
milhões de pessoas moram sozinhas, no Brasil são 30 milhões de pessoas que
estão nesta mesma situação. A família unipessoal é uma realidade dos tempos
contemporâneos, infelizmente ainda há muitas pessoas que desconhecem este
conceito de família e equivocadamente acreditam que quem vive sozinho é uma
pessoa solitária.
Os jovens, por sua vez, estão cada dia saindo mais tarde
da casa dos pais por diversos fatores, falta de emprego e oportunidades ou
dependência financeira, no entanto, há ainda aqueles que são favorecidos
financeiramente e optam por morar sozinhos nas grandes cidades ao redor do
mundo para desenvolver suas atividades profissionais ou estudar. Para estes
indivíduos viver sozinho é uma opção muito agradável e adaptável à nova
realidade dos tempos atuais.
O advento do coronavírus que aconteceu no mundo todo, fez
com que muitos governos aconselhassem que idosos e portadores de doenças crônicas ficassem dentro de seus lares,
longe de amigos e familiares para evitar que fossem contaminados pelo vírus. No
entanto, alguns cientistas sociais americanos ficaram preocupados com este
isolamento acreditando que uma nova pandemia pudesse surgir, a da solidão. A solidão
é um sentimento no qual uma pessoa pode ter uma profunda sensação de vazio e
isolamento, no entanto, este acontecimento pode acontecer com pessoas que vivem
rodeadas por outras pessoas também, e não apenas naquelas que vivem sozinhas.
Um estudo recentemente publicado na Revista American
Psychologist com o objetivo de medir a
solidão neste tempo de quarentena constatou justamente o contrário. Uma equipe
de pesquisadores liderados pela professora associada de ciências
comportamentais Angelina Sutin da Faculdade de Medicina da Universidade
Estadual da Flórida analisaram o comportamento de 1500 americanos entre 18 a 98
anos no período de janeiro a abril.
A pesquisa tinha como objetivo analisar como a solidão
poderia influenciar a saúde psicológica e física dos participantes. Os
participantes da pesquisa preencheram um questionário pelo computador sobre
como eles se sentiam sozinhos ou isolados, se tinham pessoas a quem recorrer e
se tinham doenças preexistentes.
O questionário apresentava uma escala de 1 a 3, onde 1
era pouco solitário e 3 muito solitário, a pontuação foi de 1,69 na primeira
pesquisa, 1,71 na segunda e 1,71 na terceira, ou seja, no período de uma
pesquisa para outra, não houve uma estatística significante.
Dentro deste parâmetro percebeu-se que algumas pessoas
relataram que eram recém-solitárias e outras se sentiram menos solitárias ao
longo do tempo. Os pesquisadores relataram que não encontraram diferenças
raciais nas respostas, mas que, no entanto fizeram uma análise etária e
descobriram que as pessoas com 65 anos ou mais tendem a ser mais solitárias do
que aqueles que estão na faixa dos 18 a 64 anos.Em termos percentuais, a
prevalência da solidão entre as pessoas com 65 anos a mais passou de 16% na primeira entrevista para 21% na segunda e
depois caiu para 18% na terceira.
Uma carta de pesquisa publicada no Jornal da Associação
Médica Americana - JAMA em junho por pesquisadores da Universidade Johns
Hopkins citaram a pesquisa nacional realizada entre abril e maio de 2018, antes
da pandemia, em que 11% dos americanos relataram que se sentiam sozinhos. Pesquisadores da própria universidade elaborou sua própria pesquisa nacional em
abril de 2019 com outros participantes e constataram que 13,8% dos
entrevistados disseram se sentir um pouco sozinhos.
Em plena pandemia do coronavírus há outras duas pesquisas
em andamento, a primeira liderada pelo psicólogo Jonathan Kanter da
Universidade de Washington. Nesta pesquisa, os pesquisadores enviam mensagens
de texto pelo celular para as pessoas de Seattle e outras regiões dos Estados
Unidos pedindo-lhes que preencham um questionário que inclui quanto de
interação social eles tiveram naquele dia, se sentiram compreendidos ou
cuidados por outras pessoas e se gostavam de ficar sozinhos.
Psicólogos dizem que a relação do estudo da solidão com o
uso das mídias sociais por adolescentes e adultos podem acarretar sintomas de
depressão e ansiedade associado a problemas físicos como dores de cabeça e falta
de ar, por exemplo, como sendo uma resposta à pressão social. E que isso não
acontece quando estão em contato com familiares. Os altos índices de solidão
antes da pandemia não são dados satisfatórios, por isso há a necessidade de
pesquisas constantes durante a pandemia, a fim de saber até que ponto isso pode
interferir na saúde mental das pessoas.
Outros estudos indicam que o isolamento social crônico
pode trazer consequências negativas até mesmo para pessoas saudáveis como o
aumento de desenvolver uma doença coronária. De certa maneira todos os estudos
evidenciam que pessoas acima dos 60 anos de idade, quando isoladas por um
período longo podem desenvolver um risco acentuado de demência, enquanto que
pessoas que sofrem com a solidão têm até quatro vezes mais risco de morrer.
O pesquisador Oliver Hamming do Instituto de
Epidemiologia, Bioestatística e Prevenção da Universidade de Zurique publicou
em agosto de 2019 um artigo na revista Plons One, onde relatava que pessoas
socialmente isoladas, independente da idade tendem a apresentar comportamentos
pouco saudáveis, ou seja, o isolamento pode ser muito prejudicial a
determinados grupos de pessoas, tais como idosos, crianças, adolescentes,
pessoas com transtornos mentais, além de profissionais da área da saúde, nos
quais podemos notar que, durante a pandemia tem sido as mais acometidas pelo
coronavírus, sendo que muitas nem conseguem sobreviver.
O ser humano por si só é um ser sociável, sendo o
isolamento muitas vezes prejudicial à maioria dos indivíduos que não estão
acostumados a viver muito tempo sozinho. Um projeto de atendimento online
baseado na experiência de outros países foi criado no Brasil para que pessoas
que se sentem sozinhas e isoladas durante a pandemia possam ter apoio
emocional.
Nem tudo está perdido e esta pandemia vai passar, com
certeza ficaremos seres mais fortes e melhores com estas experiências!
(Fontes de Referência de Pesquisa - Sites: npr.org , ourworldindata.org,
self.inc, e revistapesquisa.fapesp.br)
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