Marisa Fonseca Diniz
Quando falamos em ciência sempre vem à nossa mente algo
relacionado à saúde e ao meio ambiente, no entanto há vários seguimentos nos
quais a sapiência pode colaborar, inclusive com o desenvolvimento de materiais e
processos para a construção civil.
Neste artigo, vamos apresentar algumas descobertas feitas
por pesquisadores nos últimos meses e que vale a pena saber, não apenas para
conhecimento próprio como também para compartilhar com colegas de trabalho.
Concreto Reciclado
Pesquisadores da British Columbia University Okanagan
liderados pela codiretora do Centro de Pesquisa e Treinamento em Construção
Verde da BCU, Shahria Alam, e principal investigadora do estudo testaram a
resistência da compressão e durabilidade do concreto reciclado em comparação ao
concreto convencional.
Para melhor entendimento desta pesquisa cabe aqui explanar,
que o concreto convencional é um material composto de agregado fino ou grosso
adicionado a uma pasta adesiva, no entanto pode-se dizer que o concreto reciclado
substitui perfeitamente o agregado natural para a produção de um novo concreto,
que dará mais flexibilidade, e que poderá ser utilizado na fabricação de muros
de contenção, estradas e calçadas.
Segundo os pesquisadores o concreto reciclado é o
substituto ideal para aplicações não estruturais por ter bom desempenho, maior
resistência e durabilidade do que o concreto convencional se comparado a cinco
anos posteriores ao serviço executado.
Fonte: Science
Direct
Pontes resistentes a terremotos
Pesquisadores da Texas A&M University em associação à
University of Colorado Boulder constataram por meio da avaliação de um projeto
de pontes, os danos e os reparos necessários que deveriam ser feitos ao longo
dos anos. O estudo foi realizado juntamente com especialistas acadêmicos e da
indústria, no qual ficou determinado que uma técnica única e robusta é
necessária para a avaliar a viabilidade dos projetos de pontes na fase inicial
do desenvolvimento.
Visto que em regiões sísmicas, as pontes ficam mais vulneráveis
a danos e precisam de reparos mais complexos. Segundo o professor assistente do
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental de Zachry, Dr. Petros Sideris, o
tipo de reparos a ser utilizado é a principal questão desta pesquisa, uma vez
que há diferentes tipos e níveis de danos que podem acontecer após um
terremoto.
É sabido que consertar pontes é um processo lento, que
demanda uma quantia muito grande de dinheiro, além de afetar toda uma
comunidade. Para superar estas deficiências, segundo Sideris, Dr. Abbie Liel, professor
da Universidade do Colorado, Boulde e sua equipe desenvolveram um novo design
chamado de ponte
hídrica deslizante e oscilante.
Vamos entender melhor este conceito, a maioria das pontes
são sistemas monolíticos feitos de concreto derramado sobre formas que dão
forma às pontes. As pontes são fortes o suficiente para suportar o próprio
peso, além de outras cargas e o tráfego, no entanto quando há atividade
sísmica, estas estruturas podem rachar e danificar a estrutura das pontes, o
que gera um alto custo de reparação. Então, a sugestão que esta pesquisa nos
oferece é que invés de usar o design monolítico, as pontes seriam feitas de
colunas contendo articulações e segmentos inspirados em membros, assim em caso
de terremoto, as juntas fariam com que parte da energia do movimento do solo se
difundisse, enquanto que os segmentos se moveriam ligeiramente deslizando uns
sobre os outros em vez de dobrar ou rachar.
No entanto, o grande entrave desta pesquisa continua
sendo como as pontes de fato se comportariam em situações do mundo real, já que
não há nenhum projeto feito nestas condições.
Arranha-céus feitos de madeira
A necessidade de empregar materiais mais sustentáveis na
construção civil fez com que uma equipe de pesquisadores da British Columbia
University Okanagan em colaboração com a
Western University e a FPInnovations desenvolvesse pesquisas com madeira
como uma forma sustentável e eficaz de construir edifícios altos e de alta
densidade, porém renováveis.
Os arranha-céus atuais são construídos em aço e concreto,
no entanto é possível sim, segundo Matiyas Bezabeh, doutorando na Escola de
Engenharia da UBCO ser construído um prédio de madeira com técnicas modernas,
que não cairão.
Bezabeh e seus supervisores, os professores Solomon
Tesfamariam da UBC Okanagan e Girma Bitsuamlak da Western University realizaram
extensos testes de vento em edifícios de madeira maciça de alturas variadas
entre 10 e 40 andares no Laboratório de Túnel de Vento da Camada Limite da
Western University, e constataram ser viável a construção de edifícios com este
tipo de material sustentável.
Fonte: Asce
Library
Concreto sem cimento
A grande novidade neste tema é que os pesquisadores RMIT
University desenvolveram um concreto zero-cimento ecologicamente correto, que
praticamente elimina a corrosão. Do concreto e dos fatbergs que afetam os
sistemas de esgoto em todo mundo.
Fatbergs são massas grossas congeladas que entopem os
esgotos com gordura, graxa, óleo e lixo não biodegradável como lenços
umedecidos e fraldas, alguns chegando a ter 200 metros de comprimento e pesando
toneladas.
Engenheiros da RMIT desenvolveram um concreto capaz de
resistir ao ambiente corrosivo e ácido encontrado nos tubos de esgoto ao mesmo
tempo em que reduz a cal residual que vaza, e contribui para a formação da
gordura que custa milhões em reparos e danos na tubulação.
Os principais materiais que compõem o concreto sem
cimento são os subprodutos da indústria de manufatura como a nanosílica, cinza
volante, escória e a cal hidratada sem cimento, que superam os padrões de
resistência dos tubos de esgoto que são definidos pela ASTM International.
O estudo da RMIT comprovou que certos subprodutos podem
substituir perfeitamente o cimento sendo capazes de suportar a alta acidez dos
tubos de esgoto, uma vez que, o concreto sem cimento alcança benefícios
ecologicamente corretos reduzindo a corrosão do concreto em 96%.
Fonte: Science
Direct
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O trabalho A ciência a favor da construção civil de Marisa Fonseca Diniz está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://marisadiniznetworking.blogspot.com/2021/02/a-ciencia-favor-da-construcao-civil.html.
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