Marisa Fonseca Diniz
CANÇÃO DO EXÍLIO
Gonçalves
Dias
Minha terra tem
palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui
gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais
estrelas,
Nossas várzeas têm mais
flores,
Nossos bosques têm mais
vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à
noite,
Mais prazer encontro eu
lá;
Minha terra tem
palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu
cá;
Em cismar - sozinho, à
noite,
Mais prazer encontro eu
lá;
Minha terra tem
palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu
morra,
Sem que volte para lá;
Sem que desfrute os
primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as
palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
O poeta Gonçalves Dias mal imaginava na época que
escreveu este poema, que séculos mais tarde, o governo brasileiro seria capaz
de mandar destruir as florestas tropicais do país, apenas por um capricho para
dar lugar ao rentável agronegócio e fortalecer os exploradores de madeira e
metais preciosos em nome da ganância financeira. A falta de ações que
possibilitam a preservação da natureza no país vem corroborando com a matança
desenfreada da fauna e flora brasileira sem pensar que um dia tudo poder virar
areia e prejudicar a sobrevivência humana.
A frase ícone do ex-ministro do meio ambiente do Brasil de
passar a boiada tem feito com que as florestas brasileiras virem pó mais cedo
do que se pode imaginar, o que antes era orgulho para os cidadãos brasileiros,
hoje não deixa de ser uma preocupação do que pode acontecer amanhã quando não
houver mais o pulmão verde do planeta e consequentemente não haverá mais como
plantar nada, já que o solo desértico é pobre em nutrientes.
A principal consequência da destruição das florestas está
diretamente associada ao aumento das temperaturas em todo mundo, segundo a NASA
de junho de 2021 para cá, o aumento das temperaturas no noroeste do Pacífico e
oeste do Canadá tem batido diversos recordes históricos. As temperaturas
máximas excederam os registros anteriores em vários graus, mostrando que a
natureza pode sofrer um colapso se nada for feito para parar o calor extremo.
Dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia –Imazon
aponta em seu último relatório deste ano (2021), que a Amazônia Legal
brasileira registrou mais de 8.300 km2 de desmatamento, isso no
acumulado dos últimos 11 meses (de agosto/2020 a junho/2021), sendo considerado
a maior devastação nos últimos dez anos. Desse total desmatado 61% ocorreram em
terras privadas, 22% em assentamentos, 13% em unidades de conservação e 2% em
terras indígenas.
Segundo uma pesquisa publicada na Nature Scientific Journal em
julho de 2021, o desmatamento da Floresta Amazônica em associação as mudanças
climáticas está alterando a capacidade da floresta em absorver gás carbônico,
ou seja, as queimadas estão deixando a floresta mais seca elevando a
temperatura em 2ºC, o que reduz a fotossíntese fazendo com que a floresta gaste
mais tempo respirando e consequentemente emitindo mais CO2.
O caos do aumento das temperaturas vai muito mais além,
uma pesquisa feita pela University of Edinburgh e publicada no Journal of Geophysical Research: Earth
Surface afirma que as geleiras e calotas polares em
dois arquipélagos no Ártico russo estão perdendo água derretida suficiente para
encher cinco milhões de piscinas olímpicas a cada ano. A quantidade de gelo
perdida entre os anos de 2010 e 2018 sugere que uma área do tamanho da Holanda
a colocaria sob dois metros de profundidade, ou seja, o aquecimento do Oceano
Ártico tem acelerado o degelo de dois grupos de ilhas que fazem fronteira com o
Mar de Kara.
A equipe de pesquisadores da University of Edinburgh
mapeou os dados coletados pelo satélite CryoSat-2 da Agência Espacial Europeia,
a fim de monitorar as mudanças na altura da superfície e na massa das calotas
polares e geleiras, e concluiu que o aumento da temperatura atmosférica e
oceânica tem feito com que haja uma aceleração no degelos destes dois
arquipélagos.
Ainda falando sobre o Ártico, uma equipe de pesquisadores
da University of Helsinki concluiu que a área North Water Polynya
considerada um oásis tem sido mais suscetível às mudanças climáticas. A área
está localizada entre o noroeste da Groelândia e a Ilha Ellesmere no Canadá, e
que durante oito meses fica coberta por gelo marinho. Esta área de águas
abertas é conhecida como oásis ártico por ser uma das principais rotas de
migração da população nativa da Groelândia.
Segundo pesquisadores, o aquecimento global está ameaçando
o ecossistema da região, o que pode fazer com que a região desapareça se as
temperaturas continuarem a subir. No entanto, a pesquisa sugere que caso haja redução
das emissões de gases do efeito estufa e a mitigação do aumento da temperatura,
o ecossistema possa ser restaurado fazendo com que a região não desapareça do
mapa.
Pesquisadores do Massachusetts Institute of
Technology – MIT concluíram que houve mais eventos de
aquecimento prolongado na Terra com duração de milhares a dezenas de milhares
de anos do que eventos de resfriamento, e que os eventos de aquecimento tendem
a ser mais intensos e com maiores mudanças de temperatura do que os de
resfriamento. O que faz com que as condições de seca sejam cada vez mais prolongadas
com temperaturas cada vez maiores, consequentemente há mais incêndios florestais
e tempestades frequentes ocasionadas pelo aumento de dióxido de carbono na
atmosfera consequentemente há elevação de temperaturas. Não podemos esquecer
que a principal causa aqui neste caso é a ação destrutiva do ser humano.
De acordo com o último relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC
foi observado que as mudanças climáticas em todo planeta tem precedentes em
milhares e centenas de milhares de anos, como exemplo temos o contínuo aumento
do nível do mar, que são irreversíveis ao longo dos anos. No entanto, vale
ressaltar que, reduções nas emissões de dióxido de carbono e de outros gases
estufa podem limitar as mudanças climáticas.
Apesar de muitos indivíduos desconhecerem a realidade
sobre o aquecimento global e os danos causados a todos os seres vivos, vale a
pena ressaltar aqui alguns tópicos importantes para o bom entendimento sobre as
mudanças climáticas, a saber:
- Intensificam o ciclo da água tendo chuvas em maior quantidade, inundações e secas mais intensas em várias regiões;
- Afetam os padrões de precipitação, sendo que em altas latitudes a precipitação pode aumentar, enquanto há diminuição em grandes partes das regiões subtropicais, assim como é previsto mudanças na precipitação das monções;
- Com o aumento contínuo do nível do mar ao longo do século XXI, há possibilidades de ter mais inundações ao longo da costa, sendo estas mais frequentes e extremas, além de contribuir massivamente com a erosão costeira;
- O aumento das temperaturas contribui com o degelo do permafrost (tipo de solo encontrado na região do Ártico constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congelados), além da perda da cobertura de neve sazonal, o derretimento das geleiras, dos mantos de gelo e perda do gelo do mar Ártico durante o verão;
- As ondas de calor no mar são mais frequentes, os oceanos ficam mais ácidos e há diminuição do oxigênio afetando os ecossistemas oceânicos a todas aquelas pessoas que depende do mar para viver;
- Na área urbana há uma intensificação no aumento das temperaturas (tanto no verão como no inverno), aumento das tempestades consequentemente há mais enchentes devido a forte precipitação e aumento do nível do mar prejudicando as cidades costeiras e seus habitantes.
Enquanto os ser
humano não tiver consciência de que a cada dia que passa está matando o planeta
Terra chegará um dia que todos nós seremos penalizados por nossos atos
impensáveis. Governantes negacionistas, que tem fechado os olhos para o
problema não conseguem entender e nem enxergar que daqui alguns anos não
teremos commodities e nem carne para exportar, e muito menos terra para plantar
ou colher alimentos para alimentar a população mundial.
Hoje ainda podemos questionar as soluções para amenizar
os problemas futuros, no entanto se continuarmos negando a existência do
aquecimento global e suas consequências deixando de lado a solução, amanhã com
certeza não teremos mais respostas pautáveis a dar aqueles que de barriga vazia
tentam sobreviver e respirar. O aquecimento global é uma problema que tende a
agravar, mais doenças surgirão muito piores do que as atuais, mais pessoas
passarão fome, a miséria se expandirá, mais dinheiro será gasto e no final a
Terra irá ser um lugar insuportável para se viver, pois aos poucos ela está
morrendo e a conta amarga chegará para todos.
Quer saber um pouco mais sobre aquecimento global? Acesse
os links dos temas abaixo:
Ameaça
ao Planeta: Desertificação
A
vida na Terra está se tornando insuportável
Sustentabilidade:
como adiar o final do mundo?
Meio
Ambiente, o que devemos esperar para os próximos anos?
Artigo protegido pela Lei
9.610 de 19 de fevereiro de 1998. É PROIBIDO
copiar, imprimir ou armazenar de qualquer modo o artigo aqui exposto, pois está
registrado.
O trabalho Quando não houver mais respostas, as perguntas serão silenciadas! de Marisa Fonseca Diniz está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://marisadiniznetworking.blogspot.com/2021/09/quando-nao-houver-mais-respostas-as.html.
Comentários
Postar um comentário