(Uma
reflexão sobre a desigualdade social)
Marisa
Fonseca Diniz
É muito comum nos dias atuais encontrarmos receitas
prontas de como sair da crise financeira ou de como conseguir transformar o desemprego
em um negócio próprio, porém o que muitas pessoas desconhecem é que fórmulas
prontas só se adéquam a realidade das pessoas que vivem em classes sociais mais
abastadas como a A e B.
O Critério de Classificação Econômica Brasil ou CCEB é um
sistema de classificação de preços ao público brasileiro, que tem como objetivo
ser uma forma única de avaliar o poder de compra de grupos de consumidores deixando
de lado a pretensão de classificar a população em termos de classes sociais
como é feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, e
divide o mercado exclusivamente em classes econômicas, a saber:
Referência 2016 |
Além destes dados apresentados na tabela acima, o CCEB é
também calculado com base em alguns atributos presentes nos domicílios e fatores
relevantes ao acesso de serviços públicos e o nível de educação do responsável,
que é avaliado por meio de pontos, conforme tabela abaixo:
Para o IBGE, a classificação das classes sociais segue
outros parâmetros, a saber:
As classes sociais no Brasil são muito desiguais, a elite
mora em casas luxuosas em bairros arborizados com asfalto, esgoto e água
encanada, em geral são fazendeiros, grandes empresários, executivos de empresas
multinacionais, influencers, investidores de altas quantias, funcionários
públicos do alto escalão, industriais, banqueiros, artistas bem sucedidos. Viajam
constantemente para o exterior a negócio, férias e possuem moradias em outros
países, os filhos estudam nos melhores colégios particulares do país com
mensalidades que ultrapassam os 10 mil reais mensais, estudam nas melhores
universidades do Brasil e do mundo, possuem os carros mais potentes, luxuosos e
blindados na garagem, alguns têm jatinhos e iates, outros preferem ir trabalhar
de helicóptero particular. São atendidos nos melhores hospitais particulares do
país, fazem suas refeições em restaurantes caríssimos não se importando com o
preço cobrado, possuem diversos serviçais e não saem de casa sem segurança
particular, ou seja, estão muito acima da realidade da maioria da população do
país. O 1% mais rico do Brasil ganha 33,8 vezes mais do que os 50% mais pobres,
uma vergonha em pensar que o país possui uma desigualdade tão alarmante como
essa.
A classe B considerada a classe média brasileira não fica
muito atrás da elite, apesar de mais de 900 mil cidadãos terem caído da classe
A e B nos últimos anos devido à falta de emprego e a recessão. No entanto, a
classe média brasileira ainda concentra uma parte abastada da população.
Pequenos empresários, funcionários públicos, aposentados e pensionistas com
ganhos acima de R$ 5 mil reais mensais, pessoas que tem rendas extras de
aluguel, investimentos e bens, os filhos estudam nas escolas de renome e em
universidades públicas, fazem intercâmbio no exterior, viajam pelo país, tem
casa de veraneio, possuem carros e casa própria em bairros considerados seguros
e que possuem saneamento básico, tem acesso fácil à cultura, duas ou três vezes
por semana saem para jantar em restaurantes badalados da cidade e mesmo com a
crise não tem o costume de fazer grandes cortes de gastos. Tem empregada mensalista
ou faxineira, plano de saúde, seguro de vida, ou seja, tem uma vida bem
confortável.
No entanto, a classe social C é para onde muitos dos
indivíduos que no passado pertenciam à elite foram parar depois que perderam o
status de classe A ou B. Novas adaptações tiveram que ser feitas para viverem
dentro de um padrão de vida menor. Trocaram a casa própria pelo aluguel ou por
um imóvel de menor valor e em bairros mais afastados do centro, o carro zero
foi trocado por um carro mais velho ou preferiram virar motorista de
aplicativos. A educação dos filhos ficou mais restrita as escolas particulares
mais baratas em bairros mais afastados, o plano de saúde foi substituído pelos
consultórios médicos populares ou por planos de saúde mais baratos, as viagens
ficaram mais restritas a um final de semana, e as dívidas mais que dobraram,
porém não deixam de fazer uso do cartão de crédito para suprir as necessidades
diárias, mesmo não tendo dinheiro para quitá-los e não abrem mão de todas as
suas antigas regalias como a compra de novos eletrônicos ou eletrodomésticos.
As pessoas pertencentes às classes sociais D e E são aquelas
consideradas pobres, as da base da pirâmide, e que mais pagam imposto em
comparação as demais classes. Os indivíduos da classe social D, em geral são
aqueles que não tiveram a oportunidade de estudar em um colégio particular e
muito menos tiveram condições de pagar um cursinho ou entrar em uma faculdade
pública. Os filhos são enviados às escolas públicas para poderem ter pelo menos
uma refeição ao dia, e quando adultos são aqueles que estudam em faculdades
particulares graças ao Programa de Universidade para Todos – ProUni. Composta
por pessoas que trabalham em subempregos, mesmo tendo superior completo muitos
não conseguem ter oportunidades de trabalho condizente com a formação e
experiência. A moradia pode ser emprestada por algum familiar, imóveis
invadidos ou de alvenaria nas comunidades afastadas dos grandes centros
urbanos. A saúde é precária, sendo dependentes exclusivamente do Sistema Único
de Saúde - SUS, quando conseguem ser atendidos. Usuários ávidos do transporte
público, bicicletas ou um carro muito velho e sem manutenção. Raramente se
aposentam, ou seja, trabalham até morrer. A média de vida das pessoas das
classes sociais D e E está em torno dos 55 anos de idade, muito diferente da
perspectiva de vida das classes sociais A, B e C, segundo dados oficiais.
A classe social E é aquela formada de pessoas que em
geral já perderam tudo, moram em palafitas, casas de madeirite ou papelão nos
morros e ruas do país, sem nenhum tipo de saneamento básico. Composta por
pessoas que vivem exclusivamente de bicos sem ter uma renda fixa por mês,
raramente possuem alimento na mesa todos os dias, as crianças nem sempre
conseguem vagas em creches ou em escolas públicas, e quem consegue uma vaga
acaba desistindo dos estudos devido à desnutrição e a obrigatoriedade de
trabalhar cada vez mais cedo para poder ajudar na renda familiar. A saúde
pública é inacessível àqueles que não têm endereço fixo, aumentando gradativamente
as doenças infecciosas. Não possuem acesso à aposentadoria, alguns vivem de
recursos federais, como exemplo a bolsa família. Compostas por pessoas
marginalizadas pela sociedade e pelo governo. Os jovens morrem cada vez mais
cedo devido a violência nos locais em que moram ou frequentam.
É insano dizermos que no Brasil não há distinção de
classes sociais, preconceito ou fome, quando não nos falta nada. Infelizmente,
as pessoas desde pequenas são incentivadas a odiar os indivíduos menos
abastados, apenas pelo prazer de se acharem superiores aos demais. A pobreza é
dita como algo contagioso, como se a cor da pele manchasse a mão de um rico.
Há uma falta de bom senso e empatia rondando as classes
sociais mais ricas, que exploram os mais pobres em prol a sua ambição por
dinheiro. Dinheiro este que por sinal não pode ser carregado no caixão, mas que
é disputado a tapas pelos herdeiros. Não é à toa que até Jesus Cristo disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que
têm riquezas! Pois, é mais fácil um camelo passar pelo fundo duma agulha, do
que entrar um rico no reino de Deus. Lucas 18, versículos 24 e 25.
Políticas e mais políticas são criadas contra as classes
sociais mais baixas, o código penal é exclusivamente aplicado contra os mais
pobres, já que os que estão no topo da pirâmide são os responsáveis por criarem
as leis. A desigualdade social é um grande abismo no desenvolvimento do país. O
Brasil é considerado um país pobre, já que os 64% da população encontram-se na
base da pirâmide.
Muitas pessoas ainda não se deram conta que, quando
apoiam políticas de reforma trabalhista e da previdência social, não estão
prejudicando os mais pobres, e sim eles mesmos, pois os mais pobres não
trabalham com carteira profissional assinada e consequentemente não se
aposentam, assim como os mais ricos não estão preocupados em se aposentar, e
sim em juntar riquezas, que é o que os mantêm no topo.
A ignorância daqueles que elegeram uma pessoa que há anos
se mantêm na política juntamente com os filhos e nunca fizeram absolutamente nada
pelo povo, nos faz pensar que sejam pessoas obtusas em relação aos problemas
econômicos, políticos e sociais do país. Um cidadão que é a autoridade máxima
de um país e que não representa os interesses da população a nível global, e
vende o patrimônio e as riquezas do país em troca de favores é
alguém que não nos representa. Não saber se comportar como um líder político
preferindo agir como uma criança mimada dizendo em rede social que é perseguido
por seus adversários e que todos fazem complô contra ele é de se pensar que sofra
de paranoia. Dizer a todos os cidadãos que governa em nome de Deus é com
certeza uma pessoa que desconhece a verdade bíblica, pois Jesus Cristo não
andava com corruptos e muito menos com os hipócritas, preferindo andar ao lado
dos pobres e injustiçados. Muito diferente do que apregoa favorecendo
exclusivamente os mais ricos com a desculpa de que os mesmos pagam altas cargas
tributárias, sendo os responsáveis por gerar riquezas no país. Acredito que
tenha um problema sério de interpretação de dados ou tenha fugido das aulas de
história, pois os que mais enriquecem o país são justamente aqueles que pagam
mais impostos, ou seja, os pobres.
Ora, não sejamos tão cegos a ponto de não perceber que tudo
que o governo fala não passa de fake news. Escravizar e explorar os mais pobres
tirando os direitos dos mesmos apenas com o desejo de enriquecer os mais ricos
é a maneira mais esdrúxula de se governar. A maneira mais inteligente de
governar seria adotar uma política que favorecesse todos os cidadãos oferecendo
oportunidades para terem uma vida mais digna e contribuindo dessa maneira com o
crescimento uniforme da economia.
Subtrair direitos dos cidadãos é a maneira mais
autocrática que um governo possa fazer
para implantar um sistema autoritário em um país. Nem de direita e nem de
esquerda deve-se permitir que um governo implante estas decisões, porque depois
de perdido os direitos nenhum cidadão conseguirá voltar a trás ao sistema
democrático.
Aqueles que atualmente apoiam tais decisões por se
considerarem pessoas conservadoras, só perceberão depois de muito tempo, que
foram corresponsáveis pela implantação de um sistema autoritário em que eles
mesmos serão lesados por esta ideologia, assim como aconteceu nos governos de
extrema direita e esquerda na Europa no século passado, e que perpétua até hoje
no mundo.
Apoiadores de um governo autoritário aprendam:
Não
dê migalhas aos mais pobres,
Dê oportunidades.
Não
dê conselhos de como juntar um milhão,
Dê condições de terem uma vida digna.
Não
dê fórmulas prontas de sucesso
Aprenda com eles como ser feliz.
Não
os chame de vagabundos,
Aprenda com eles o que é ser solidário.
Algo
que as classes sociais mais elevadas deveriam aprender.
Qual
o lado da história você prefere ficar?
O da consciência limpa ou o lado que ajuda a matar diversos
inocentes, apenas por eles serem pessoas pobres financeiramente?
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#desigualdadesocial
#socialinequality
#desigualdadsocial
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