Marisa Fonseca Diniz
Não há nada mais contagiante do que a risada de um
pequeno inocente, no entanto, nem todas as crianças tem o prazer de sorrir,
pois muitas têm a sua inocência interrompida pela violência logo que nascem. A
violência contra as crianças é o tema deste artigo, que sirva de reflexão
aqueles que insistem em maltratar as crianças ou ignorar a violência sem nada
fazerem para contê-la.
Atualmente há mais 2,2 bilhões de crianças em todo mundo e
desse total estima-se que 1 bilhão de crianças com idades entre 2 e 17 anos
sofram algum tipo de violência, seja física, emocional, sexual ou negligência.
A violência causa danos imensuráveis para quem sofre com
ela, e a família que deveria ser o amparo legal de muitas crianças na maioria
das vezes proporciona um ambiente tóxico e nocivo a elas. Em alguns países há a cultura
da “venda” de crianças cada vez menores em troca de comida, permuta essa feita
com homens que poderiam ser seus avós ou pais, e que casadas são dilaceradas
sexualmente, onde muitas acabam morrendo. A maioria dos casamentos forçados
acontece em comunidades empobrecidas principalmente da África, Sul da Ásia e
América Latina, mas países desenvolvidos também são acometidos por este tipo de
matrimônio mesmo que em menor escala.
O casamento forçado é uma prática onde as pessoas não tem
a opção de recusar o matrimônio, pois muitas são prometidas a outras famílias
ainda muito pequenas. Forçar uma menor de 18 anos a se casar em troca de
comida, casa ou qualquer outro benefício para a família da vítima é algo que
deve ser combatido em várias culturas ao redor do mundo, pois não é algo
natural e sim uma violência.
Segundo o relatório do Fundo das Nações Unidas para a
Infância – Unicef - sobre Casamento Infantil e Uniões Precoce, os países onde
há mais casamentos infantis na América Latina são República Dominicana,
Nicarágua, Honduras, Belize e Brasil, este último que por sinal possui uma taxa
de 26% do total de mulheres na faixa etária de 20 a 24 anos de idade que se
casaram ou vivem com seus parceiros antes da maioridade. Se as autoridades
brasileiras nada fizerem para conter esta cultura de casamento precoce, as
taxas poderão aumentar alarmantemente até 2030 perdendo apenas para os dados da
África Subsariana.
As taxas mais altas de casamento infantil no mundo se
encontram no sul da Ásia, quase 45% de todas as mulheres com idades entre 20 e
24 anos se casaram antes dos 18 anos de idade, ou seja, quase uma em cada cinco
meninas casou-se antes dos 15 anos de idade, o que equivale a 17% desse total.
A violação dos direitos infantis coloca as crianças em um
círculo vicioso de exploração, abuso e violência como o que acontece na Índia,
que tem o maior número de noivas no mundo, o que corresponde a 1/3 do total
global. Bangladesh, por exemplo, tem a maior taxa de casamento infantil da Ásia
e a quarta maior do mundo, e o Nepal também vai pelo mesmo caminho, onde o casamento infantil atinge tanto meninas como
meninos em faixas cada vez menores de idade.
A violência infantil não fica restrita apenas ao casamento
infantil, segundo a World Health Organization, as crianças podem ser vítimas
também de violências interpessoais, tais como:
Maus tratos: que envolve violência física, sexual,
psicológica e emocional, além de negligência contra bebês, crianças e adolescentes
cometidas por pais, cuidadores, familiares ou autoridades, os ambientes mais
propícios para que esta violência ocorra é a casa onde as crianças convivem com
seus algozes, a escola e os orfanatos;
Violência emocional ou psicológica: é o
fato de difamar, ridicularizar, ameaçar, discriminar, intimidar, rejeitar,
restringir o movimento da criança, além de outros tratamentos hostis;
Violência sexual: são
atitudes como tentar ou concluir o ato sexual por meio da violência e atos de
natureza sexual que não envolve contato, tráfico sexual e a exploração infantil
por meio da internet;
Bullying
e cyberbullying: comportamento agressivo de
uma criança com outra criança ou um grupo de crianças, que envolve danos
físicos, psicológicos ou sociais, que em geral ocorre em ambientes escolares ou
outros ambientes, incluindo grupos virtuais criados na internet;
Violência juvenil: essa violência está restrita
as idades de 10 a 29 anos e acontece mais em ambientes comunitários entre
pessoas conhecidas ou estranhas, que inclui intimidação, agressão física com ou
sem o uso de armas, além da violência de gangues;
Milhares de crianças morrem em todo mundo em decorrência
de maus-tratos e negligência, como é o caso que aconteceu em Jefferson City no
Missouri, Estados Unidos, em 2018. Darnell Gray uma criança de 4 anos foi
torturada e assassinada por sua cuidadora, Quatavia Givens. Segundo os
investigadores foi constatado que a criança vinha sendo negligenciada e sofria
maus-tratos, o que colocava em risco o bem-estar do menino. Outro caso que
chocou a opinião pública nos Estados Unidos foi o caso do casal Shirley e
Michael Gray Sênior que são acusados de assassinarem Sophie Heather Gray, a
filha adotiva. O caso aconteceu em Roane County no Tennesse no ano de 2017. Na
época, a garota tinha 11 anos de idade e a crueldade foi tamanha, que a criança
vinha sofrendo há anos torturas e abuso físico por parte dos pais adotivos, que
segundo a investigação foi constatado que os Grays trancaram a menina no porão
como maneira de puni-la por comer comida da cozinha. Depois de alguns meses,
trancafiada no porão a criança faleceu, e para piorar o caso, o casal manteve o
corpo da menina em uma caixa de papelão antes de enterrá-la no quintal.
No Brasil em março de 2021, o menino Henry Borel Medeiros
de 4 anos depois de passar o final de semana com o pai biológico voltou ao
apartamento onde vivia com a mãe e o padrasto, sendo morto por ambos depois de
ter sido agredido fisicamente. A criança já vinha sofrendo maus-tratos do
padrasto e a mãe conivente nada fez a favor do filho. Em abril deste mesmo ano,
uma menina de 6 anos morreu em decorrência das agressões físicas cometidas pela
mãe e a madrasta, além das torturas físicas , onde a criança era alimentada com comida
estragada. Ainda no Brasil, outro caso chocou a população da cidade de São
Paulo em maio de 2021, Gael de Freitas Nunes de apenas 3 anos de idade morreu
depois de ter sido agredido e asfixiado pela própria mãe.
Como se não bastasse à violência cometida por pais,
familiares e cuidadores, as guerras tem um papel expressivo quando o assunto é
violência. Os recentes ataques na Faixa de Gaza em maio de 2021 mataram pelo
menos 63 crianças. Em março deste ano várias crianças com idade média de 11
anos foram decapitadas em Cabo Delgado em Moçambique devido a conflitos armados
na região. Como se não bastasse estas atrocidades, os milhares de conflitos
armados espalhados pelo mundo afora tem causado diversas mortes de crianças,
além de mutilações que deixam sequelas para o resto da vida.
A pornografia infantil é outro tipo de violência que vem
crescendo a cada dia que passa em todo mundo, sendo uma das formas mais
violentas de abuso infantil. A comercialização indiscriminada de fotos, imagens
digitais e vídeos de crianças sendo abusadas sexualmente ou tendo sua imagem
explorada é um problema global e envolve meninos e meninas na faixa do 0 aos 18
anos de idade.
O impacto da violência na vida das crianças é enorme e
pode deixar marcas irreversíveis ao longo dos anos. As consequências da
violência, segundo a World Health Organization podem prejudicar o desenvolvimento
do cérebro e do sistema nervoso, quanto mais precoce a idade de quem sofre violência
maiores serão os danos nos sistemas endócrinos, circulatório,
músculo-esquelético, reprodutivo, respiratório e imunológico.
Outros problemas a serem enfrentados é a gravidez
indesejada, abortos induzidos, infecções sexualmente transmissíveis como HIV e
outros problemas ginecológicos. Há aumento de doenças cardiovasculares, câncer
e diabetes.
A violência afeta negativamente o desenvolvimento
cognitivo e consequentemente resultam em baixo aproveitamento escolar e
vocacional. Estudos relatam que as
crianças expostas à violência tendem na fase adulta ter maior probabilidade de
fumar, fazer uso de drogas, de se tornarem alcoólatras e terem comportamentos
sexuais de alto risco. No nível psicológico há altas taxas de ansiedade,
depressão, além de outros problemas de saúde, mutilação e um maior risco de
cometerem suicídio.
Crianças expostas constantemente à violência tem maior
probabilidade de abandonar os estudos, dificuldade de encontrar e manter um
emprego quando adultas, além de maior risco de se tornarem vítimas ou
perpetuarem a violência interpessoal e autodirigida, o que pode afetar as
próximas gerações.
A melhor prevenção está no desenvolvimento de políticas
públicas adequadas que abordem sistematicamente os fatores de risco, coíbam a
violência e protejam as crianças. A participação da sociedade, da comunidade e
da família para prevenir a violência infantil é uma maneira de acabar com este
mal que afeta as crianças a nível mundial.
As pessoas precisam aprender a denunciar qualquer
agressão física ou psicológica, o fato de se omitirem ou acreditarem que a
situação nos os atinja é uma maneira covarde de permitir que a violência se
perpetue. As crianças precisam ter seus direitos respeitados, além de uma
infância tranquila, um lar equilibrado, pessoas que a entendam e as amam, elas
precisam brincar para ter um bom desenvolvimento cognitivo e cresçam de maneira
saudável.
Não há nada pior do que ver uma criança com o olhar
perdido, triste, sem perspectiva de futuro, pois além das marcas físicas há as
marcas emocionais que podem acabar com os sonhos de qualquer criança. Cabe a todos nós denunciar a violência de
qualquer natureza, mas principalmente a infantil e quebrar de vez este rastro
de destruição. Pensem sobre isso e façam a sua parte para que a violência não
se torne no futuro algo normal, pois de certa maneira todos nós sofremos as
consequências!
Onde denunciar violência infantil nos seguintes países
(basta acessar o link):
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O trabalho Por trás de toda gargalhada há uma lágrima de Marisa Fonseca Diniz está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://marisadiniznetworking.blogspot.com/2021/06/por-tras-de-toda-gargalhada-ha-uma.html.
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